Uma vez indicada acirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior, o cirurgião de joelho vai optar pela melhor escolha do enxerto a ser usada. Sua escolha envolve fatores como suas propriedades biomecânicas, resposta à cicatrização, morbidade da área doadora, resistência de sua fixação inicial e incorporação biológica. Fatores como o grau de deslocamento da instabilidade, lesões ligamentares associadas e prática esportiva com saltos ou agachamento devem ser levados em conta, porém, é a experiência do cirurgião o fator decisivo e de maior segurança ao paciente.
Na década de 80, utilizou-se material sintético tipo Dacron, Teflon e popipropileno. Os resultados a longo prazo mostraram alta taxa de complicações devido a falha do material e reações inflamatórias. Atualmente, os enxertos mais usados e mais bem sucedidos são os biológicos. Os enxertos de doadores cadáver são muito utilizados nos Estados Unidos da América. No Brasil e em outros países do mundo, as fontes mais comuns para a obtenção dos enxertos retirados do próprio paciente, sendo os mais utilizados os tendões semitendíneo, e grácil dobrados, o tendão quadricipital e o tendão patelar com fragmentos ósseos.
Tendões flexores semitendíneo e grácil (ST/GR)
O uso dos chamados “tendões flexores”, ou “isquiotibiais”. Nesta técnica, colhemos o tendões grácil e semitendíneo, que são facilmente palpados na região interna e ligeiramente atrás do joelho. Quando preparados e dobrados, produzem uma estrutura cilíndrica com maior volume de tecido, maior resistência ao ligamento cruzado anterior pré-existente, porém com maior elasticidade, quanto comparado ao enxerto descrito anteriormente, podendo causar algum grau de frouxidão pós-operatória, que clinicamente não é significante, ou seja, raramente leva a queixa de falseio pelo paciente.
Tendão quadricipital
O tendão quadricipital é muito usando na reconstrução do ligamento cruzado posterior e em revisões, por ser mais grosso e longo. As mesmas desvantagens do tendão patelar, mas com menor incidência de dor no ápice da patela.
Tendão patelar (TP)
O enxerto osso-tendão patelar-osso retirado com aproximadamente 8 a 11 milímetros de largura e fragmentos ósseos da tíbia e patela. As desvantagens incluem a morbidade do sítio doador e problemas específicos relacionados ao tendão patelar, como fraqueza do músculo quadríceps, dor patelar, tendinite e fratura da patela.
Comparação entre os métodos TP e ST/GR
Comparativo entre os dois métodos, tendo como base 100 joelhos com instabilidade anterior crônica, sendo avaliados 50 pacientes de reconstrução do LCA com o enxerto do tendão patelar, operados entre julho de 1991 e setembro de 1994 (total de 71 joelhos) e 50 pacientes com o enxerto duplo do tendão do semitendinoso e gracilis, operados entre novembro de 1994 e fevereiro de 1997 (total de 90 joelhos).
Entre estes casos não se incluem lesões associadas maiores do que rotura meniscal. Foram afastados da avaliação todos os casos que apresentavam lesão condral ou osteocondral ou instabilidade periférica associada.
Na série do TP, 42 pacientes apresentaram lesão meniscal (82%), sendo 27 do menisco medial (65%), seis no lateral (14%) e oito lesões duplas (20%). Quarenta e sete pacientes pertenciam ao sexo masculino (94%) e três ao feminino (6%). A idade máxima foi de 47 anos, a mínima de 22 anos, com média de idade de 31 anos. Dentro desta série, temos uma atleta profissional (judô) e uma atleta semiprofissional, sendo os demais pacientes pertencentes à classe de atletas recreacionais. Todos procuraram o consultório porque tinham como aspiração o retorno ao esporte de eleição.
Na série do ST/GR, 43 pacientes apresentaram lesão meniscal (90%), sendo 25 do menisco medial (50%), oito do lateral (16%) e três roturas meniscais duplas (6%). Foi realizada sutura meniscal em um caso de rotura no corpo e corno posterior do menisco medial, pela técnica inside-out.
A idade máxima foi de 48 anos, mínima de 19 anos, com média de 29 anos. Quarenta e seis pacientes pertenciam ao sexo masculino (92%) e quatro ao feminino (8%). Um atleta profissional (futebol) está incluído nesta série, com duas atletas semiprofissionais e os demais integrantes da categoria recreacional.
O seguimento maior foi de quatro anos e 11 meses para a série do TP e dois anos e seis meses para o enxerto ST/GR. O menor seguimento foi de dois anos e três meses para o TP e de 11 meses para o ST/GR. Todas as cirurgias foram realizadas por videoartroscopia pelo mesmo cirurgião, em regime ambulatorial, sob anestesia peridural.
Pós-operatório de reconstrução do ligamento cruzado anterior >
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